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domingo, 1 de maio de 2011

O reality show do Vaticano

Parece que a urgência dos nossos dias, reforçada pela grande proporção de vida virtual que levamos, em que um clique resolve vários problemas, chegou ao Vaticano, na melhor forma reality show - talvez devesse dizer, na sua melhor velocidade.


Não é que João Paulo II, aquele papa que morreu em 2005, teve hoje sua beatificação e está prestes a ser canonizado, rompendo com todos os trâmites regulares da Igreja, digamos assim, numa beatificação-expressa? Logo de sua morte, saíram à praça São Pedro fiéis com a faixa "santo subito", que quer dizer santo logo, em italiano. Pois a mim parece mais que a melhor tradução seria a mais literal: é o não é um bocado súbita, essa beatificação concedida em menos de 5 anos, contradizendo o cânone? Onde está a pressa? Não que eu seja versada em nenhum desses assuntos, aliás, nem cristã sou, apenas curiosa, eu diria, no fato de os trâmites no Vaticano serem lentos como a lesma, para umas coisas, céleres como o salário, para outras.

Tome-se como exemplo (e um pouquinho de provocação, que ninguém é de ferro, muito menos eu) a lentidão do Vaticano em pedir desculpas aos negros do mundo inteiro. Este peso recaiu mesmo sobre o papa João Paulo II, coitado. Desculpou-se pelo que não fez e, no entanto, pelo tom com que falou, notava-se logo que era apenas mais uma fala numa das várias línguas que não dominava, mas esboçava. Eu, pessoalmente, prefiro minha parte em dinheiro.


Já o papa novo, Bento XVI, não se sentiu suficientemente pressionado a desculpar-se pelo mal-estar causado por suas infelizes palavras sobre o Islam - esse papa deve achar que quem manda é mesmo ele, mas, como ainda é novo no poder, engolimos.


Talvez não seja assim, entretanto. Vai canonizar em tempo recorde o seu antecessor, quebrando todas as regras e, até onde eu perceba, sem nenhum motivo concreto. Ouvi dizer que conta muito uma categoria chamada "fama de santidade". Imagine que loucura, canonizar alguém nessa base? Ainda por cima hoje, quando o celebrismo é o vírus mais universal que existe - aliás, pelo que se vê, chegou até o Vaticano.


Até parece que essa beatificação foi organizada por um marketeiro. Depois dela é que virá a canonização - por enquanto, o papa será beato, o que quer dizer que só poderá ser celebrado em Roma e em Wadowice. Então, há material de sobra para manter os fiéis "ocupados", isto é, dando audiência.


Enfim, será que esses acontecimentos estão a nos mostrar o cupinzeiro que corrói a fé católica? Pode ser que sim. Não quero parecer mais enxerida que o normal, mas penso que melhor faria o papa se tivesse conhecimento de uma simples frase brasileira: muita calma nessa hora.


Ou não.