Interessei-me em acompanhar algumas análises sobre a chamada "crise no mundo árabe". Achei mais digno de nota do que tudo o fato de as análises terem como pano de fundo a pergunta: "o que os Estados Unidos vão fazer?"
Penso, no entanto, que a maior dificuldade em se lidar com essa categoria política à qual se habituou intitular "mundo árabe" é... a própria categoria política "mundo árabe", às vezes inclusive "mundo islâmico", mesmo que indevidamente. Após o artigo "O Choque de Civilizações" de Samuel Huntington, na revista Foreign Affairs, em 1993, ficou bem tentador categorizar pessoas em blocos grandes, mais manuseáveis tanto do ponto de vista da análise academicista quanto da política externa. Claro que, dentro de um país, ninguém está lá, concordando diariamente com essa classificação, pois, se assim fosse, eu não me pensaria Flavia, e sim pessoa do risco-país 184 (valor do dia 28 de Janeiro de 2011, segundo fonte na internet).
A questão é que Flavia é um conglomerado de forças diversas, que tanto sofrem pressão de elementos externos que não encontram compatibilidade suficiente para serem englobados no conglomerado principal, quanto de internos. Os mais coesos formam algo que se pode chamar "nordestina", "cidadã paulistana", "judia", etc. E ao conjunto total dá-se o nome de Flavia.
Da mesma maneira é o Brasil e os brasileiros, que, como bem sabemos, mas parecem desconhecer por completo vários analistas estrangeiros, não somos "alegres", "fraternos", "cordiais", "criativos", "violentos", "bons de bola", "musicais", nem nada disso. Se assim fosse, nossa música não passaria pela triste crise pela qual está passando, ou nosso futebol, e as empresas que eu mesma atendo estariam exportando criatividade, em vez de reclamar sua falta.
Acredito que, posto assim fica mais fácil de ver o ponto que quero apresentar: as diferenças apontadas são superficiais em relação ao que é uma pessoa humana, um grupo de pessoas, comunidades muito discrepantes vivendo sob a égide de uma instituição que busca ser um território, uma nação e um país simultaneamente.
No caso do Islam, entretanto, o buraco é mais embaixo. Nos sentimos no direito de, em não sabendo nada sobre nenhum daqueles países que adotaram esta religião, cultivar, se não sentimentos, pelo menos sensações relativas a eles, quase sempre desagradáveis, visto que são fruto da incompreensão absoluta misturada com uma certa preguiça em procurar saber, diga-se de passagem. Então, os jornais, felizes com alguma notícia bombástica para dar, dispõem manchetes do gênero "Entenda a crise dos países árabes" porque, afinal, árabe/muçulmano é só uma categoria política que não leva em consideração subcategorias como acesso à informação, nível de escolaridade, acesso à saúde, idade, sexo - ítens também eles categóricos, mas que ao menos indicam diferenças que permitem, por fim, sabermos que estamos falando de pessoas, e não de um bloco manipulável qualquer, a quem este outro bloco incrível chamado "comunidade internacional" (o que será isso, pergunto-me?) vai decidir se invade e mata rápido, se embarga e mata devagar.
Penso, no entanto, que a maior dificuldade em se lidar com essa categoria política à qual se habituou intitular "mundo árabe" é... a própria categoria política "mundo árabe", às vezes inclusive "mundo islâmico", mesmo que indevidamente. Após o artigo "O Choque de Civilizações" de Samuel Huntington, na revista Foreign Affairs, em 1993, ficou bem tentador categorizar pessoas em blocos grandes, mais manuseáveis tanto do ponto de vista da análise academicista quanto da política externa. Claro que, dentro de um país, ninguém está lá, concordando diariamente com essa classificação, pois, se assim fosse, eu não me pensaria Flavia, e sim pessoa do risco-país 184 (valor do dia 28 de Janeiro de 2011, segundo fonte na internet).
A questão é que Flavia é um conglomerado de forças diversas, que tanto sofrem pressão de elementos externos que não encontram compatibilidade suficiente para serem englobados no conglomerado principal, quanto de internos. Os mais coesos formam algo que se pode chamar "nordestina", "cidadã paulistana", "judia", etc. E ao conjunto total dá-se o nome de Flavia.
Da mesma maneira é o Brasil e os brasileiros, que, como bem sabemos, mas parecem desconhecer por completo vários analistas estrangeiros, não somos "alegres", "fraternos", "cordiais", "criativos", "violentos", "bons de bola", "musicais", nem nada disso. Se assim fosse, nossa música não passaria pela triste crise pela qual está passando, ou nosso futebol, e as empresas que eu mesma atendo estariam exportando criatividade, em vez de reclamar sua falta.
Acredito que, posto assim fica mais fácil de ver o ponto que quero apresentar: as diferenças apontadas são superficiais em relação ao que é uma pessoa humana, um grupo de pessoas, comunidades muito discrepantes vivendo sob a égide de uma instituição que busca ser um território, uma nação e um país simultaneamente.
No caso do Islam, entretanto, o buraco é mais embaixo. Nos sentimos no direito de, em não sabendo nada sobre nenhum daqueles países que adotaram esta religião, cultivar, se não sentimentos, pelo menos sensações relativas a eles, quase sempre desagradáveis, visto que são fruto da incompreensão absoluta misturada com uma certa preguiça em procurar saber, diga-se de passagem. Então, os jornais, felizes com alguma notícia bombástica para dar, dispõem manchetes do gênero "Entenda a crise dos países árabes" porque, afinal, árabe/muçulmano é só uma categoria política que não leva em consideração subcategorias como acesso à informação, nível de escolaridade, acesso à saúde, idade, sexo - ítens também eles categóricos, mas que ao menos indicam diferenças que permitem, por fim, sabermos que estamos falando de pessoas, e não de um bloco manipulável qualquer, a quem este outro bloco incrível chamado "comunidade internacional" (o que será isso, pergunto-me?) vai decidir se invade e mata rápido, se embarga e mata devagar.