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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Camadas de leitura

Estive lendo agora na grande imprensa uma notícia sobre a proibição dos livros do Paulo Coelho no Irã e o pronunciamento da Ministra da Cultura, Ana de Holanda, dizendo que vai averiguar melhor o caso, pois considera todo tipo de censura "lamentável".  Na verdade, o que me chamou mais a atenção foram os três primeiros comentários que li. Por conta deles, tive vontade de falar aqui com vocês.


Penso que o que torna a nossa capacidade de reflexão difícil de se impor é a mistura - esta, sempre fácil de se fazer - das camadas de leitura que compõem um tema. Por exemplo, as opiniões que eu li mais ou menos enviezam todas elas de uma só vez;  eu gostaria de destacar algumas, para dar a entender melhor o meu ponto de vista:


  • dimensão da qualidade artística: a qualidade dos textos de Paulo Coelho é um tema com foro próprio, ela mesma dividida em dimensões diversas: a) se o texto em si é bom ou ruim; b) se está escrito em boa ou má língua padrão (português "culto"), etc.;
  • dimensão de política exterior: que posicionamento político deve ou não ser adotado;
  • dimensão de política interior: tendo em vista que o Brasil também terá banido alguns livros, que procedimentos poderiam ser adotados em relação ao tema;
  • dimensão da política iraniana em relação a Israel : nem tudo o que o Irã faz pode ser ligado à sua postura sobre esse assunto, delicadíssimo por si só;
Por fim, vou ressaltar aquela dimensão que, a meu ver, torna a matéria menos confusa e mais digna de discussão: a da liberdade de expressão. Neste sentido, proponho um exercício de ponderação. Muitas são as vezes em que decidimos não permitir que nossos filhos vejam, por exemplo, cenas violentas na tv. Não porque não queiramos que eles pensem que o mundo é cor-de-rosa, mas porque consideramos inadequado, acima de tudo, que a tv esteja mostrando aquelas cenas. O esforço conjunto que teríamos que empreender para que ela não as exibisse seria infinitamente maior do que o esforço individual de tapar os olhos das nossas crianças; assim, adotamos o procedimento que nos sai mais facilmente. 

Aí mesmo, nesta simples frase, reside mais de uma camada, vejam só: 
  • nem todas as sociedades se identificam com o afazer individual, com o individualismo;
  • há povos que consideram inaceitável submeter as suas pessoalidades às imposições mercadológicas, como quando, por exemplo, mulheres aparecem semi-nuas ou desnecessariamente insinuantes em anúncios para vender desde casas até pasta-de-dente.
Não estou adotando o banimento de livros como método de educação ideal. Estou, antes, tentando entender por que ainda hoje esta metodologia é utilizada. Onde ou por que estamos falhando em encontrar outras saídas. 

Termino este texto com um convite à reflexão mais profunda: eu penso, sim, que há uma mensagem no Islam que nos chega (uma vez que este que chega ao Ocidente não é a totalidade do que o Islam é), mensagem esta que nós teimamos em não ouvir e, com isso, nos empobrecemos em nossa capacidade de compreender o fenômeno humano.

Mas ainda há tempo de seguir tentando.

2 comentários:

  1. Olá Flavia,tudo bem?Eu te conheci ontem no café paõn,eu sou o percursionista que fez com a Walesca
    e aproveitando a oportunidade de sua ida ao banheiro te abordou,lembra?Me perdoe a atitude,mas
    não dava para ser diferênte.Te achei uma FIGURA IMPA,de simplicidade jamais vista e te assintindo
    palestrar sobre o mundo corporativo,confesso que
    te achei de uma competência tipica de quem nasceu para fazer a diferênca em qualquer área.
    Que DEUS esteja sempre contigo.
    Do seu mais novo fã...
    Carlinhos Batera ou Dj.Carl Félix
    YOUTUBE:Dj.Carl Félix
    YOUTUBE:Dinho canta com Dai(Nesse video eu estou de batera).
    Um forte Abraço.

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  2. Há,eu vou rezar muuuuuuuito para vê-la em ação como cantora e compositora,não só eu mas com certeza muita gente.

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