A imprensa noticiou em larga escala mais um escândalo nacional: o deputado federal Tiririca foi escolhido para integrar a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O já cansado, mas insistente (ainda) leitor dirá: mais essa? E agora? Onde estamos, para onde vamos?
Essa é mesmo a questão que quero trazer. Já não se trata tanto de saber "quem somos" ou "de onde viemos". Parece que para nós, confusos latinoamericanos, só restam perguntas como "para onde vamos". É uma pena, pois essa pergunta ganha maior validade quando nos é possível questionar, primeiro, "de onde viemos". Digo isso porque, se não fizermos a pergunta correta, fica impossível obter alguma resposta que preste. Por exemplo, aqui, o problema não é o Tiririca. É a complexa rede que leva a Tiririca, ou melhor, a que tiririquemos a nossa política. Como isso acontece? Nós, eu e vocês, mortais leitores, deveríamos saber que, para que pudéssemos fazer jus à origem da idéia de democracia ("de onde viemos"), deveríamos nos preparar para assumir cargos políticos.
No nosso caso, desconhecendo a origem, confudimos democracia com instrumentos democráticos e os operamos sem muito traquejo. Leve-se em conta também que, em matéria democrática, somos um bebê - nem temos 30 anos ainda, isto é, apenas uma geração. Desta maneira, tiriricaremos ainda muito nossos instrumentos, não porque o Tiririca em si seja mau, mas porque, em não sendo ninguém de importância política, consegue toda a representatividade desse vazio de afazeres políticos que nos aguarda.
O Tiririca, paradoxalmente, tem essa legitimidade que só um instrumento democrático mal utilizado poderia dar. O ideal seria olhar este exemplo para construir as pontes que faltam, arar a terra e plantar as sementes para um sistema genuíno, advindo de questionamentos múltiplos e complexos, sem dúvida, mas que pudessem escapar ao vazio de co-responsabilidade que nos assola. Lembrando sempre que este vazio tem se tornado comum também com a ajuda da tecnologia, que nos permite a informação e a opinião, ambas, no geral, rebaixadas à categoria de bla-bla-blá, uma vez que o fazemos desde o recôndito de nossos computadores, sem nem ao menos meter a cara na janela, quem dirá assumir uma postura política de ação e emancipação.