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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vazio político




A imprensa noticiou em larga escala mais um escândalo nacional: o deputado federal Tiririca foi escolhido para integrar a  Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O já cansado, mas insistente (ainda) leitor dirá: mais essa? E agora? Onde estamos, para onde vamos?

Essa é mesmo a questão que quero trazer. Já não se trata tanto de saber "quem somos" ou "de onde viemos". Parece que para nós, confusos latinoamericanos, só restam perguntas como "para onde vamos". É uma pena, pois essa pergunta ganha maior validade quando nos é possível questionar, primeiro, "de onde viemos". Digo isso porque, se não fizermos a pergunta correta, fica impossível obter alguma resposta que preste. Por exemplo, aqui, o problema não é o Tiririca. É a complexa rede que leva a Tiririca, ou melhor, a que tiririquemos a nossa política. Como isso acontece? Nós, eu e vocês, mortais leitores, deveríamos saber que, para que pudéssemos fazer jus à origem da idéia de democracia ("de onde viemos"), deveríamos nos preparar para assumir cargos políticos.

No nosso caso, desconhecendo a origem, confudimos democracia com instrumentos democráticos e os operamos sem muito traquejo. Leve-se em conta também que, em matéria democrática, somos um bebê - nem temos 30 anos ainda, isto é, apenas uma geração. Desta maneira, tiriricaremos ainda muito nossos instrumentos, não porque o Tiririca em si seja mau, mas porque, em não sendo ninguém de importância política, consegue toda a representatividade desse vazio de afazeres políticos que nos aguarda.

O Tiririca, paradoxalmente, tem essa legitimidade que só um instrumento democrático mal utilizado poderia dar. O ideal seria olhar este exemplo para construir as pontes que faltam, arar a terra e plantar as sementes para um sistema genuíno, advindo de questionamentos múltiplos e complexos, sem dúvida, mas que pudessem escapar ao vazio de co-responsabilidade que nos assola. Lembrando sempre que este vazio tem se tornado comum também com a ajuda da tecnologia, que nos permite a informação e a opinião, ambas, no geral, rebaixadas à categoria de bla-bla-blá, uma vez que o fazemos desde o recôndito de nossos computadores, sem nem ao menos meter a cara na janela, quem dirá assumir uma postura política de ação e emancipação.

Um comentário:

  1. Muito bom o colocamento da co-responsabilidade dos cidadãos. Claro que "a" solução para atingí-la não existe, e sim "as" soluções, pois são vários os fatores que incidem na falta de formação democrática.

    Porém, ao meu ver, a mídia poderia jogar um papel contundente nessa trilha formativa. Ela poderia contribuir fácilmente ao amadurecimento da cidadania en tanto que potencial agente eleitor.
    E como poderia se dar essa contribuição?. Do mesmo jeito que os meios de comunicação, concretamente os jornais, contam com um "livro de estilo" (não sei se esse é o termo em português, mas trata-se de um guia, cujo conteúdo tem como intuito padronizar a terminologia utilizada por um jornal dado), eles poderiam ter um "guia de assuntos dormintes".

    Nesse livrinho mágico poderiamos descobrir que o termo ecologia não é de anteontem, que o Gadafi lidera a Líbia desde 1969, mas também os antecedentes políticos, ou policiais se os houvesse, de todos nossos políticos nacionais. E a partir daí fomentar a produção de artigos, programas com essa temática.
    Garanto intuitivamente, que não é utopia produtos mediáticos com conteúdo socio-político conseguir concorrer em termos de audiência, com os de fofoca por exemplo (que aqui na Espanha são os de maior audiência, ..yes). Tudo depende do tratamento que esse conteúdo receva, que tem tudo para aceitar ser salpimentado com humor e ironia da maior qualidade e resultar em prato espetacular.

    Em resumo, sou contra o argumento de que temos os meios/a tv que nos merecemos. Oferecendo qualidade de interesse público, o público agradece com seu interesse. E acredito no papel que esses meios vão jogar na valorização da memória como arma de formação da cidadania e portanto de ação política.

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